Lucy Kellaway
De tempos em tempos eu digo ao meu marido que sou uma mulher à beira de um colapso nervoso. Então exponho item por item tudo o que fiz naquele dia e todas as coisas que farei no seguinte.
A lista é interminável: artigos para escrever, mensagens cansativas para ler e enviar, uma luz piloto com problemas na caldeira, um kit esportivo infantil que foi descuidadamente esquecido no ônibus e assim por diante. Quando termino ele sempre diz, de uma forma um tanto professoral: "Você leva uma vida muito feliz e plena. Você não iria querê-la de outra forma".
Isso fica aquém da resposta que buscava, que é: "Você é uma maravilha!" ou pelo menos, "posso lhe preparar uma xícara de chá?" Mas o que é ainda mais incômodo é a suspeita de que ele possa estar certo. Minha vida atarefada pode não ser o que está me empurrando ao limite. Pode ser a coisa que me mantém sã.
Essa suspeita cresceu na semana passada após ler "CrazyBusy" (insanamente ocupado), um guia de auto-ajuda para aqueles que têm coisas demais a fazer. O subtítulo, "Sobrecarregado, superatarefado e prestes a estourar", transmitia alguma esperança de que o autor, o dr. Edward M. Hallowell, poderia me entender de uma forma que meu marido evidentemente não entendia.
Segundo o dr. Hallowell, esse excesso de atividade é endêmico. Quase todo mundo está ocupado demais. Nós todos estamos correndo mais e mais rápido em nossa agitação diária viciante e sem sentido, nos tornando ineficientes, desgastados e irritáveis. Nós estamos tão ocupados respondendo a exigências aleatórias que estamos perdendo de vista as coisas que importam. Nós paramos de pensar e estamos desperdiçando nossas vidas.
O dr. Hallowell percebeu quão ruins as coisas se tornaram quando certo dia recebeu uma paciente em seu consultório e ela lhe perguntou se era normal que seu marido mantivesse seu BlackBerry ao lado dela enquanto faziam sexo.
"O fato de essa mulher não ter idéia de que o comportamento de seu marido era inaceitável, se não insano, foi o momento em que tive certeza de tínhamos criado um novo mundo", ele escreve.
Ler aquilo foi o momento em que tive certeza de que estar atarefada não era um grande problema e que o assunto é tratado com excesso de sentimentalismo. Primeiro, os hábitos de quarto deste casal. Os aparelhos que eles mantêm próximos deles enquanto copulam é problema deles. Eu não vejo nada de errado em ter um BlackBerry em um lado da cama, e aposto que muita gente faz isto. Certamente há telefones em quartos há muito tempo e eles certamente são mais intrometidos, já que tocam.
Mas de forma mais geral, toda a tese está errada -estar atarefado não é uma maldição da vida moderna como o dr. Hallowell sugere. Apesar de estar insanamente ocupada e passar grande parte do meu tempo distraída, perdendo coisas e enviando mensagens inúteis, eu não vejo evidência de que isto esteja atrapalhando minhas prioridades.
No meu criado-mudo tenho "A Abadia de Northanger" (que alguém poderia argumentar ser uma barreira tão grande à intimidade quanto um BlackBerry). O livro serve como um lembrete do que as pessoas costumavam fazer antes de estarem insanamente ocupadas.
Na época de Jane Austen havia outra compulsão social ainda mais preocupante que afligia a classe média: o ociosidade insana. Em Bath (que era altamente estimulante em comparação ao interior), as mulheres não pensavam em nada sobre não fazer nada toda manhã e então ir toda tarde ao Pump Room para assistir outras fazerem muito pouco. E longe de tal inatividade clarear a mente para grandes pensamentos, a srta. Allen apenas se preocupava sobre se era melhor vestir o vestido de musselina liso ou com prega.
Nem suas vidas eram melhores por serem poupadas da correria insensata da tecnologia. Pelo contrário: a cena dolorosa em que Catherine aguarda por uma hora pelo charmoso sr. Tilney, apenas para ser levada pelo insosso sr. Thorpe, nunca teria ocorrido caso o sr. Tilney lhe tivesse enviado uma mensagem de texto dizendo "vejo você mais tarde".
Um exemplo ligeiramente mais atualizado da superioridade do atarefamento é apresentada por uma amiga que é uma mãe e mulher que trabalha fora bem-sucedida e que no último fim de semana foi a uma fazenda spa para fugir de seu estilo de vida maníaco. Quando ela voltou, eu perguntei se foi bom. "Não", ela disse. A ociosidade forçada foi sem sentido e deprimente, especialmente quando ela teve que se sentar quieta com uma máscara de aveia fétida aplicada no rosto.
O dr. Hallowell teria pouca fé nisto. Ele diria que ela era uma viciada enfrentando sintomas de abstinência: que nosso excesso de atividade nos torna hamsters em uma roda e que quando saímos dela nos sentimos inúteis, tontos e desesperançosos. Mas há outra explicação melhor. Ser insanamente ocupado (mesmo quando periodicamente faz você se sentir à beira do colapso) ainda é muito melhor do que ficar sentado inutilmente com mingau no rosto.
Eu posso pensar em cinco motivos para isto.
Tradução: George El Khouri Andolfato |
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